Já dizia Cecília
em verdadeiro soneto
Não sou alegre, nem triste
Sou poeta
Por inteiro
Não por escolha
Não por talento
Por fatídico destino
Eu e meu eterno desalento
A perene insatisfação
Que enfastia minha alma
Que cala meu riso
Que me paralisa as mãos
Como aprender com a vida
O que nem a escola
Nem mesmo família
Quiça nem Deus
(ó blasfêmia)
Ensina
A olhar no espelho
Sem subterfúgios, sem traumas
Com minha nua alma
E não entrar em desespero?
Como desvencilhar-se de sonhos alheios
De padrões que não são meus
De paradigmas outrora válidos
E hoje desfeitos, meros cacos
Como descobrir-me
Aceitar-me
Amar-me
Ou, quem dera, tolerar-me
Como se apaixonar por uma ilustre desconhecida
Pessoa arredia e sombreada
Com quem convivi toda minha vida
E de quem não sei nada